O Cinema é a Vida em Movimento?
A palavra cinema deriva do termo grego ‘Kinema’, que significa movimento. Esta denominação foi escolhida para designar a arte de produzir imagens em movimento após a construção do cinematógrafo pelos irmãos Lumiére. Mas este foi apenas um dos diversos equipamentos desenvolvidos no século XIX capazes de registar fotograficamente imagens sucessivas numa velocidade superior ao tempo da persistência retiniana.
No cinematógrafo, as imagens gravadas produzem a sensação de movimento contínuo quando são projectadas numa velocidade análoga. Todavia, entre os inventos precursores do cinema é fundamental referir as sombras chinesas, silhuetas projectadas sobre uma parede ou uma tela, que surgiram cerca de cinco mil anos antes de Cristo e foram difundidas na Índia e em Java, Indonésia. Mas existem ainda outros instrumentos directamente antecessores que merecem uma referência mais alargada.
Lanterna Mágica
A lanterna mágica, caixa dotada de uma fonte de luz e lentes que enviava imagens ampliadas para uma tela, é o antecessor dos aparelhos de projeção modernos. Este aparelho básico foi usado durante o século XIX em locais académicos, como a Universidade de Sorbonne, mas também em lugares populares, como teatros, antecipando aquilo que eria o espectáculo de massas proporcionado pelo cinema no século XX.
Criada no século XVII foi descrita pelo sacerdote jesuíta Athanasius Kircher na sua obra Ars Magna Lucis et Umbrae de 1645. Todavia, os registos históricos indicam que foi o dinamarquês Thomas Walgenstein o primeiro a utilizar o nome lanterna mágica. Constituído por uma câmara escura com lentes integrava vários processos: a luz de uma lâmpada de azeite incorporada atravessava uma placa de vidro, que por sua estava pintada com desenhos que eram projetados num lenço. A ilusão de movimento acontecia por via da movimentação dos vidros.
Zootrópio
O Zootrópio, um jogo baseado na sucessão circular de imagens, também tem lugar na História do Cinema. Este instrumento também era conhecido como Zootropo, um termo com origem nas palavras gregas ζωή (zoe = vida) + τρόπος (tropos = giro, roda). O Zootrópio foi criado em 1834 pelo matemático inglês William George Horner. Esta máquina famosa consistia num tambor circular com pequenas janelas recortadas, através das quais o espectador pode ver os desenhos dispostos em tiras. Quando gira ou roda sobre si mesmo, o tambor cria uma ilusão de movimento aparente. Com tal arte em movimento, o público adorou a invenção na na época, sendo ainda hoje considerado um dos avanços da óptica mais importantes para o surgimento posterior do cinema.
O Zootrópio de Horner difundiu-se nos Estados Unidos da América graças aos esforços de William F. Lincoln, o que permitiu que de forma paulatina o público aprendesse uma nova forma de olhar. Esta invenção foi essencial para que 50 anos depois a cultura da ilusão do movimento criada por dispositivos científico-tecnológicos fosse facilmente aceite pelas audiências.
Teatro Óptico
O Teatro Óptico consiste numa combinação de lanterna mágica e espelhos para projectar filmes de desenhos numa tela. Criado por Émile Reynaud e patenteado em 1888, baseia-se no Praxinoscópio, que no início era apenas uma caixa de biscoitos com um único espelho! Contudo, o instrumento foi sendo melhorado integrando posteriormente um sistema complexo de espelhos que permite efeitos de relevo. Com a multiplicação das figuras desenhadas e a adaptação de uma lanterna de projeção foi possível criar a ilusão de movimento ambicionada. É considerado naturalmente um dos antecedentes do cinematógrafo.
Zoopraxinoscópio
O Zoopraxinoscópio era um aparelho que não capturava imagens, somente as exibia de forma animada através da rotação de uma manivela, onde um pequeno disco chamado fenaquistoscópio girava intercalando fotografias do mesmo objeto em posições diferentes.
Este instrumento que está na origem da fotografia em série foi inventado em 1872 por Eadweard Muybridge e era composto por 24 máquinas fotográficas colocadas em intervalos regulares ao longo de uma pista de corridas de cavalos. Quando o cavalo passava em frente às máquinas fotográficas, os fios eram quebrados, o que desencadeava disparos sucessivos! E assim se decompunha o movimento do animal em fotogramas. Este instrumento servia sobretudo para projetar as imagens e realizar estudos do movimento.
Cinetoscópio
Ao contrário dos outros instrumentos referidos neste artigo, o Cinetoscópio é um aparelho original para a visão individual de filmes de celulóide e não se destinava a exibir publicamente um filme perante o público. O Cinetoscópio é um instrumento de projecção interna de filmes inventado em 1981 por William K. L. Dickson, chefe engenheiro da Edison Laboratories de Thomas Edison. O aparelho integrava um visor individual através do qual era possível ver, mediante a inserção de uma moeda, a sequência de uma pequena tira de filme em looping. A maioria das montagens mostravam imagens em movimento de números cómicos, animais amestrados e bailarinas!
Os filmes reproduzidos no Cinetoscópio (também conhecido como Quinetoscópio) eram produzidos pelo Cinetógrafo (ou Quinetógrafo), outra invenção patenteada por Thomas Edison, embora tenham sido produzidas por William K.L. Dickson, auxiliado por uma equipa de técnicos especialistas em máquinas que mostravam fotografias em movimento.
Cinema: o nascimento de uma nova Arte
“Com essa invenção a morte não será mais absoluta. As pessoas que vimos na tela estarão connosco movendo-se e vivas, mesmo após a sua morte.” (frase publicada no jornal La Poste, por um jornalista desconhecido, no dia da primeira apresentação do cinema em público).
Apesar de todas as invenções mencionadas foram os irmãos Lumiére que conseguiram pela primeira vez projectar imagens ampliadas numa tela graças ao Cinematógrafo, um invento equipado com um mecanismo de arrasto para as películas.
Na apresentação pública de 28 de Dezembro de 1895, realizada no Grand Café du Boulevard des Capucines, em Paris (França), o público viu, pela primeira vez, filmes como La Sortie des Ouvriers de L´usine Lumiére e L´Arrivée d´un Train en Gare, que eram breves testemunhos da vida quotidiana da cidade.
Em qualquer dos casos, as duas artes surgiram da necessidade do ser humano comunicar com o seu semelhante e continuam a ser renovadas actualmente, em busca de uma expressão mais completa, enquanto preenchem as nossas vidas todos os dias.