Que livros de Agustina Bessa-Luís foram adaptados por Manoel de Oliveira?
A relação de Agustina Bessa-Luís com Manoel de Oliveira iniciou-se, em 1981, quando o cineasta adaptou a obra Fanny Owen ao filme que intitulou de Francisca. Desde essa altura, Oliveira transpôs mais cinco obras da autora, a última A Alma dos Ricos, em 2005, para o filme Espelho Mágico.
Quer se aprecie a sua escrita ou não, a verdade é que Agustina Bessa-Luís atingiu o estatuto de ser uma das mais consagradas escritoras da contemporaneidade portuguesa. Por essa razão, não será difícil perceber o que terá levado Manoel de Oliveira a recorrer ao seu talento, transpondo para o grande ecrã livros da sua autoria.
Ainda jovem, nada distinguia Agustina Bessa-Luís dos outros colegas, com quem partilhava o gosto pelo cinema e que, segundo ela, sempre foi uma companhia mais importante do que o livro. Uma arte – a Sétima – através da qual também o mundo ficou a conhecer toda a sua versatilidade narrativa, atendendo a projecção internacional alcançada por Manoel de Oliveira.
No entanto, a relação com o realizador nem sempre foi a mais cordial. Aliás, sobre a película O Princípio da Incerteza, a autora chegou mesmo a afirmar, em entrevista, que o realizador “esteve menos atento, talvez porque estivesse já a pensar num outro filme e, por isso, vou ter mais cuidado com Oliveira”.
Que livros de Agustina Bessa-Luís foram adaptados por Manoel de Oliveira?
A saga cinematográfica iniciou-se em 1981, quando o cineasta adaptou para cinema a obra Fanny Owen, tendo intitulado o filme de Francisca. Uma história eminentemente romântica envolvendo um triângulo amoroso, rapto, abandono, despeito, ciúme e vingança, morte por tísica e por desgosto. Fanny Owen representa o estereótipo romântico da mulher angelical e demoníaca, com uma força de atração irresistível que desperta paixões devastadoras. É uma espécie de símbolo erótico, vazia de alma, manipulada pelos dois pretendentes, José Augusto Pinto de Magalhães e Camilo Castelo Branco, enquanto veículo de desejo, de domínio e de paixão.
Seguiu-se, em 1993, a adaptação homónima de Vale Abraão. Esta é a história de Ema, uma mulher de uma beleza ameaçadora que casou com Carlos, por quem não nutre amor. O seu gosto pelo luxo, as ilusões que tem na vida, o desejo que inspira aos homens, fazem-lhe valer o epíteto de “A Bovarinha”. Ao longo da narrativa conhece três amantes, mas esses amores sucessivos não conseguem suster um sentimento crescente de desilusão que a leva a definir-se como nada mais que “um estado de alma em balouço”.
Dois anos mais tarde (1995), é a vez de O Convento, protagonizado por Catherine Denevue e John Malkovich, a partir do romance As Terras do Risco. Este romance decorre na Arrábida, onde há muitos séculos o homem conhece a confrontação com a sua própria obscuridade, dando-lhe às vezes o nome de Deus, outras de rei ou de poderes telúricos, terramotos e tempestades.
Em 1998, Manoel de Oliveira transpõe para o grande ecrã o conto A Mãe de um Rio, numa película à qual deu o título de Inquietude e que, em 1999, viria a ser distinguida com o Prémio Globo de Ouro para Melhor Realização.
Já em 2002, o realizador aventura-se na adaptação do romance Jóia de Família, no filme O Principio da Incerteza, que não caiu nas boas graças de Agustina. Esta é a história de Rute Clara, uma mulher que decide dar à luz o seu terceiro filho na Quinta do Salto, propriedade do tio Albergaria, sabedora de uma cláusula do testamento deste, segundo a qual todos os seus bens se destinariam ao sobrinho que nascesse na casa de família. Mas a criança nasce morta, ou morre ao nascer, e Celsa Adelaide, criada dedicada que assistiu ao parto, decide trocá-la de imediato, e antes que a senhora Rute dê por isso, pelo seu filho que nascera dias antes.
Tendo três anos depois estreado Espelho Mágico realizado a partir de um outro romance, A Alma dos Ricos, e que veria a ser em vida a última obra adaptada à Sétima Arte. O filme mostra a história de Luciano, saído da prisão e levado pelo seu irmão, Flórido, a casa de Alfreda, uma senhora rica, para a servir.
E, uma vez questionado sobre qual dos filmes de Manoel de Oliveira mais tinha gostado, a escritora foi peremptória: Francisca.