Estamos em 1922 e os cineastas procuram novos caminhos para percorrer com a arte recente do cinema. As imagens ainda são a preto e branco e os filmes permanecem em silêncio. Apesar de começarem a surgir alguns dos êxitos mais comerciais nos estúdios norte-americanos, o realizador Robert J. Flaherty decide partir para o Ártico, à procura de uma história que ninguém conheça. A magia da imagem em movimento já não é suficiente.
Por volta de 1916, tinha imagens suficientes para organizar exibições públicas. Contudo, os negativos das imagens acabaram por ficar destruídos quando deixou cair um cigarro sobre a película (que era então composta por um material extremamente inflamável). Ironicamente, foi assim que Flaherty decidiu regressar ao Ártico para capturar novas imagens e registar uma obra marcante. Mas desta vez o processo teria um enfoque concreto. Em vez de filmar imagens aleatórias da vida esquimó, porque não filmar o dia-a-dia de uma família, numa sequência lógica mas natural? Assim, entre Agosto de 1920 e Agosto de 1921, o realizador norte-americano capturou as imagens para aquele que é hoje considerado como o primeiro documentário de longa duração da história do cinema.
Ao longo de quase 80 minutos, acompanhamos por isso a vida de Nanook, da sua família e da tribo esquimó Inuit. Na verdade, Nanook refere-se a um “caçador de ursos”, no dialeto usado entre os esquimós e, como se veio a saber mais tarde, o nome verdadeiro da personagem principal é afinal Allakariallak. Hoje, quase 100 anos depois de ter sido gravado, especialistas em cinema olham para o filme e reconhecem que junta documentário com drama… e chegam até mesmo a questionar o seu valor genuíno.
Porém, pondo por momentos as críticas de lado, há que relembrar que para Flaherty este era apenas um filme e o próprio realizador nunca o quis etiquetar como documentário. Ao ter acesso a um meio pouco conhecido, o realizador deu-se à liberdade de encenar aquilo que queria filmar, partindo sempre dos fatos que conhecia da realidade esquimó.
Neste documentário, assistimos por isso a muitas das cenas que fazem parte da realidade ártica. Pela câmara de Flaherty assistimos à construção de um iglô – a tradicional cabana de gelo construída e habitada pelos esquimós –, a momentos de caça, às brincadeiras de crianças e à necessidade constante para encontrar alimento, especialmente quando todo o peixe do mar é pescado.