A Selva: um filme que constrói pontes entre Portugal e Brasil
Com uma carreira sólida, Leonel Vieira conquistou definitivamente o público com Pátio das Cantigas, um remake do clássico português, capaz de bater recordes de bilheteira e de levar mais espetadores ao cinema do que qualquer outro filme português. Apesar do sucesso, este está longe de ter sido o único filme do cineasta: anteriormente Leonel Vieira já nos tinha dado a conhecer as histórias de Zona J, ou Julgamento. É precisamente sobre o segundo que falamos neste post.
Com um elenco verdadeiramente de luxo, A Selva, de 2002, construiu pontes entre Portugal e Brasil ao criar um enredo que envolve diretamente os dois países. A personagem principal é interpretada pelo “Hot Jesus” português, Diogo Morgado, mas há também espaço para o espanhol Karra Elejalde e a brasileira Maitê Proença.
Conheçamos agora um pouco mais da história. Passado no início do século XX, narra a história de Alberto (Diogo Morgado), um jovem monárquico português que se encontra exilado em Belém do Pará, no Brasil. Velasco (Karra Elejalde), um capataz espanhol, contrata-o para trabalhar no seringal de Juca Tristão (Cláudio Marzo), em pleno coração da Amazónia.
Depois de uma longa viagem pelo rio Madeira, no Amazonas, em condições sub-humanas, Alberto chega, finalmente, ao seringal Paraíso, onde é colocado no meio da selva para trabalhar na recolha da borracha sob a proteção do cearense Firmino (Chico Díaz). Aí o jovem português descobre um mundo estranho e selvagem, em que os índios, a febre e a loucura dos homens são perigos diários. Contudo descobre também a amizade, a lealdade e a solidariedade dos seringueiros face ao poder despótico dos exploradores.
Após um difícil período no coração da selva, Alberto é levado para trabalhar no armazém do seringal. Integra-se rapidamente naquela comunidade onde pontificam Juca Tristão, o patrão; Velasco e Caetano (Roberto Bonfim), os seus capatazes; Guerreiro (Gracindo Júnior), o gerente, e a sua belíssima mulher, Dona Yáyá (Maitê Proença); Alexandrino (Luís Vitalli) e o Argentino (Sergio Villanueva), homens de mão; e até um velho e misterioso negro, um antigo escravo chamado Tiago. No entanto, Alberto já não é o mesmo rapaz inexperiente e idealista que a selva tinha engolido alguns meses atrás.
Ao fim de pouco tempo apaixona-se por Dona Yáyá, e envolve-se com ela num romance inesperado, despertando o ódio do espanhol Velasco. Mas, a sua grande prova surge quando Firmino lhe vem pedir ajuda para fugir do seringal. Alberto aceita, sem pensar na sua própria segurança. Firmino e os restantes companheiros de fuga acabam por ser capturados e torturados por Velasco, que quer saber quem os ajudou na fuga. Alberto tenta ajudar o amigo, mas sente-se impotente face ao poder de Juca e dos seus homens.
Inesperadamente, é Tiago (João Acaiabe), o velho negro, que força a resolução do conflito. Revoltado com o tratamento que Juca está a dar aos prisioneiros, que lhe recorda os tempos da escravatura, pega fogo à casa do patrão. Juca Tristão morre no incêndio e Alberto acaba por matar Velasco no conflito que se sucede, encerrando assim a sua dura aprendizagem da realidade.
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Leonel Vieira: uma “selva” de referências
Natural de Miranda do Douro, Leonel Vieira reflete a miríade de culturas que fazem parte da sua própria vida.
Filho de mãe portuguesa e pai espanhol, o cineasta mostrou, desde cedo, apetência para as artes. Com 15 anos começou a pintar e aos 17 mudou-se para o Porto, cidade onde estudou Design durante 3 anos. O passo seguinte foi no país vizinho: aos 20 vai para Madrid para estudar cinema e aí permaneceu durante uma meia dúzia de anos.
O regresso a Portugal deu-se quando tinha 26 anos, aceitando o desafio de realizar o seu primeiro filme. É em 1998 que assistimos à estreia de A Sombra dos Abutres, mas foi só no ano seguinte que a aclamação chegou. Com Zona J, o cineasta deu-se a conhecer e o filme continua a ser um dos mais assistidos dos últimos anos.
À procura de novas culturas, Leonel Vieira decide explorar a relação de Portugal com o Brasil em , um filme que, como vimos, tem algum peso histórico. Seguiram-se Tiro no Escuro, de 2005, O Julgamento, de 2007, e A Arte de Roubar, em 2008. Entretanto, começou também a trabalhar para uma cadeia de televisão espanhola, para a qual produziu alguns telefilmes, e gravou em vários pontos do mundo.
Mais recentemente, o realizador aceitou fazer uma viagem ao passado e revitalizar uma trilogia de clássicos antigos do cinema português. foi o primeiro sucesso, seguem-se O Leão da Estrela, ainda em 2015, e A Canção de Lisboa, com data prevista para 2016.