10 filmes que caracterizam a Nouvelle Vague francesa
No final dos anos 1950 e início da década seguinte, o cinema francês passou por uma fase artística que hoje recordamos como Nouvelle Vague. Este tipo de cinema demarca-se principalmente pela irreverência dos seus realizadores, que procuram transgredir as regras de tudo aquilo que era aceite na altura e considerado normal.
Os filmes procuram também revigorar o conceito de cinema. Basta recordarmos que o termo Nouvelle Vague surgiu pela primeira vez pela boca de Françoise Giroud, em 1958, quando se referiu aos novos cineastas francesas do pós-guerra. Numa época marcada pela decadência da Europa e do realismo poético francês, nomes como Godard e Truffaut tentam levantar de novo o moral artística de França e impor algo diferente.
Neste post, relevamos uma selecção de 10 filmes que caracterizam a Nouvelle Vague, apresentando ainda uma breve sinopse para cada um dos títulos.
10 filmes que caracterizam a Nouvelle Vague
Le Beau Serge – Claude Chabrol (1958)
O filme foca-se na personagem de François, interpretado por Jean-Claude Brialy, que sofre de tuberculose e regressa à sua cidade natal. Nessa viagem, encontra a vila onde nasceu exatamente na mesma, mas os seus amigos de infância cresceram e são agora pessoas muito diferentes. Realizado por Claude Chabrol, este filme alimentou a inspiração de realizadores como Godard, Truffaut e Rivette que, nos anos seguintes, iam dar forma à Nouvelle Vague iniciada com Le Beau Serge.
Le signe du lion – Erich Rohmer(1959)
Neste filme de Eric Rohmer, é nos apresentada a viagem de Pierre Wesselrin, um músico vagabundo que recebe a notícia de que a sua tia morreu e, acreditando que vai receber herança, começa a gastar tudo o que tem para celebrar. No entanto, pouco depois descobre que foi deserdado. Le signe du lion é um filme caracterizado pelo seu estilo minimalista e por contar com diálogos longos que exploram temas como a infidelidade e solidão. A crítica social, a acidez e montagem cheia de travellings e cortes rápidos faz desta obra uma das pioneiras da Nouvelle Vague.
Hiroshima, mon amour – Alain Resnais (1959)
O filme Hiroshima, mon amour apresenta-nos uma atriz francesa durante o seu último dia de filmagens em Hiroshima, no Japão. Além de estar prestes a terminar as filmagens do filme, a atriz prepara-se para terminar uma relação com um japonês. Este filme de Alain Resnais, conhecido como o realizador da memória, é uma verdadeira análise profunda do comportamento das personagens, assim como da psicologia e memória que os leva a agir. O argumento do filme foi assinado pela escritora Marguerite Duras.
À bout de souffle – Jean-Luc Godard (1960)
Neste filme de Jean-Luc Godard, conhecemos Michel, uma personagem que se envolve numa complicação a partir do momento em que rouba um carro e mata um polícia. Ao encontrar Patrícia, tenta convencê-la a fugir com ele para Itália. Este será, provavelmente, o filme que melhor caracteriza o Nouvelle Vague, já que abandona o sistema de estúdio e aposta mais no improviso do argumento e interpretações, tal como na direção autoral, as referências ao cinema, orçamento baixo, cortes bruscos, tempo curto de produção (quatro semanas) e a conversa dos atores com o espectador.
Les 400 coups – François Truffaut (1959)
O jovem rapaz Antoine Doinel, com apenas 14 anos, decide revoltar-se contra o autoritarismo da escola e o desprezo que sente por parte da sua mãe e padrasto. Por essa mesma razão, começa a frequentar um cinema e a fazer novas descobertas. Neste filme, François Truffaut reflete acerca do cinema pessoal que defendia como crítico. A personagem de Doinel, que surge noutros filmes de Truffuat, é a versão fictícia do próprio realizador. A câmara acompanha os impulsos e as agonias existenciais do protagonista.
Zazie dan le métro – Louis Malle (1960)
Zazie, uma rapariga que vive no interior de França, viaja até Paris para uma pequena visita de dois dias. A jovem rapariga tem o sonho de andar de metro. Porém, uma greve dos trabalhadores de metro torna impossível o seu sonho. Neste filme, Louis Malle abandona a densidade e escuridão de filmes como Ascensor para o Cadafalso e adopta um estilo mais leve e cómico, que não deixa ao mesmo tempo de ser uma sátira absurda para a vida parisiense.
Paris nous appartient – Jacques Rivette (1961)
Anne Goupil estuda literatura e está, no início do filme, a ensaiar para uma peça de Shakespeare. Durante uma festa, conhece um realizador norte-americano assim como casal misterioso, e este quarteto não tarda nada a ser absorvido por um enredo político. Nesta película, Jacques Rivette apresenta uma história enigmática repleta de teorias da conspiração. Ao contrário dos cortes abruptos e da velocidade de outros realizadores, Rivette aposta em longos silêncios e num enredo que se arrasta durante mais de duas horas de filme.
Bande à par – Jean-Luc Godard (1962)
A personagem de Odile é seduzida por dois ladrões que sabem que a jovem rapariga tem uma tia com uma grande fortuna. Os dois ladrões, que tencionam fazer um assalto, elaboram uma estratégia para que a jovem e inocente Odile se apaixone por um deles. Este é um dos sete filmes de Jean-Luc Godard que conta, no papel principal, com Anna Karina, a sua esposa, e certamente o rosto feminino mais famoso da Nouvelle Vague.
Jules et Jim – François Truffaut (1962)
Este é um filme que nos relata a amizade de dois homens, Jules e Jim (Oskar Werner e Henri Serre), e o amor de ambos por Catherine (Jeanne Moreau). O filme, que é narrado em voz voz, uma clara influência ao cinema americano dos anos 1940, marca este que é o terceiro filmes de François Truffaut. O enredo é mais adulto, profundo e insiste no debate de temas existenciais. Trata-se sem dúvida de um filme essencial para entender a Nouvelle Vague.
Cléo de 5 à 7 – Agnès Varda (1962)
Neste filme, a personagem de Cléo está à espera do resultado de uma biópsia que vai mudar para sempre a sua vida: tem cancro ou não? O filme acontece nesse longo tempo de espera, analisando as agonias e pensamentos de Cléo e tudo aquilo que poderá acontecer caso saia um resultado ou outro. A casualidade da narrativa faz com que o filme se confunda facilmente com documentário. Porém, o ponto de vista cinematográfico, tem várias homenagens à sétima arte, com anedotas e cenas de cinema mudo.