A utilização da cor no filme Azul de Krzysztof Kieslowski
O recente ciclo com a retrospetiva da obra do realizador polaco Krzysztof Kieslowski – iniciativa conjunta, da Leopardo Filmes e da Medeia Filmes – foi uma oportunidade excelente para ver ou rever os seus filmes no grande ecrã, nomeadamente a sua internacionalmente reconhecida Trilogia das Cores.
Kieslowski criou três filmes com base nas cores da bandeira francesa, em que o azul simboliza a liberdade, o branco a igualdade e o vermelho a fraternidade. Os três filmes estão ligados por algum acontecimento mas podem perfeitamente ser vistos independentemente. Na minha opinião vale a pena ver os três, se possível na ordem acima referida.
Como forma de prestar a minha homenagem a Krzysztof Kieslowski este será também o primeiro artigo de três. Neste artigo irei fazer uma reflexão sobre o primeiro filme da trilogia: de 1993, alusivo à cor Azul.
[Nota da Autora: este artigo contem o mínimo de spoilers possível]
Fui (rever) o “Trois couleurs: Bleu” (título original) ao Teatro Municipal Campo Alegre, no Porto, com uma amiga que não perde nenhuma oportunidade de voltar a ver este filme – diz-se que já o terá visto umas 10 vezes – e chora sempre!
É realmente um filme muito especial em que me parece que qualquer pessoa se pode rever e encontrar um medo seu, o que torna cada visionamento verdadeiramente único.
Um filme de uma sensibilidade incrível que nos transporta para o seu interior fazendo-nos viver a vida dos seus personagens e emocionar de início ao fim da narrativa.
A Narrativa
Este filme conta a história de Julie, esposa de um famoso compositor francês, interpretada por Juliette Binoche.
Logo no início do filme assistimos ao acidente que irá provocar a morte do seu marido e também da sua filha.
O tema da liberdade manifesta-se no modo como Juliette Binoche decide recriar a sua vida, cortando todas as ligações com a sua vida anterior, mudando-se para o centro de Paris e vivendo anonimamente.
No entanto acaba por descobrir que não consegue escapar à sua vida anterior, às recordações da sua família e à música inacabada que estava a ser composta pelo seu marido.
A Cor Azul
Impera em todo o filme uma tonalidade azul. Esta temperatura de cor, fria, para além de representar a liberdade, como foi já referido, exprime tranquilidade, serenidade e harmonia, mas também está associada à frieza, monotonia e depressão. Simboliza a água, o céu e o infinito e representa a fidelidade e a tristeza. Associada com a profundidade e estabilidade, simboliza a confiança e a lealdade.
Um ambiente azul acalma e tranquiliza pelo que o tom do filme é em simultâneo de desapego mas também de emancipação. Num importante momento da narrativa, somos confrontados com um importante adereço azul, que inicia a ação.
Julie passa bastante tempo a nadar durante a segunda e a terceira parte do filme, o que, para além de trazer mais tonalidade azul ao filme, nos ajuda a separar as diferentes fases de evolução da personagem, uma vez que a água simboliza precisamente a limpeza e, em seguida, a regeneração.
Na minha opinião a expressividade de Juliette Binoche neste filme é extraordinária, comparável à sua atuação como Camille Claudel no filme “Camille Claudel 1915“, realizado por Bruno Dumont.
O primeiro, de três filmes, a não perder!
Pingback:The use of color in Krzysztof Kieslowski Blue film - Ferrell Jess