O real impacto das séries de TV na vida e comportamento das pessoas
A televisão tem um grande impacto na maneira como passamos os nossos tempos livres. Provavelmente afeta mais os jovens do que os adultos, porque eles vêem mais TV, embora a Internet nos últimos tempos tenha alterado substancialmente os métodos de consumo de entretenimento.
Mesmo assim, os críticos da televisão afirmam que a TV ainda retira muito do nosso tempo livre, de forma que nos falta tempo para outras atividades como conversas em família, leitura, exercícios físicos.
Também serve para mostrar um mundo que não é real. A televisão muitas vezes incentiva-nos a pensar que o mundo é mais violento do que realmente é, por exemplo. Inclusivamente através da TV percebemos a vida glamorosa de algumas pessoas e acreditamos que elas estão em melhor situação do que nós.
Quando o fenómeno da globalização estourou nas nossas vidas há alguns anos, surgiram inúmeros debates académicos sobre o assunto. Os escritos mais pertinentes continham as seguintes ideias: era preciso considerar o facto de que a globalização já era uma realidade, gostemos ou não, e portanto a abordagem inteligente procurou saber aproveitá-la ao máximo.
Podemos aplicar o mesmo raciocínio ao fenómeno do vício em séries de TV, ou seja, estou a falar do consumo massivo e constante de séries de televisão. O número de shows e espectadores que os preferem a outros formatos tem aumentado na última década, muito devido ao incremento da oferta através de plataformas de streaming como a Netflix e HBO.
De acordo com um estudo conduzido pelo site de roleta online Betway, o impacto de séries como Emily em Paris, The Crown ou Gambito da Rainha tem extravasado o habitual.
Desde que existem filmes e séries, tal como livros e música, que a arte tem influenciado sobremaneira a vivência dos seres humanos. Afinal, esse é precisamente o propósito da criação artística: não apenas entreter, mas também provocar a reflexão e, em consequência, a acção.
Contudo, existe algo de diferente no consumo massivo de séries de TV nesta economia digital com excesso de informação em que vivemos todos actualmente.
Na minha opinião é possível aproveitar essa novidade, mas para isso é importante saber por que determinada série atrai a nossa atenção e se provoca um vício. Nesses casos, as consequências emocionais que advêm do seu consumo podem ser estimulantes, mas também perturbadoras. Podem ajudar ou prejudicar, e até é possível modificar uma personalidade para reflectir os comportamentos das personagens.
Sim, existem perigos no vício do consumo de séries de TV, mas também factores positivos. Por exemplo, devido ao sucesso da série Gambito da Rainha, as pesquisas online por “xadrez” aumentaram cerca de 88%. E como é por demais reconhecido este famoso jogo de tabuleiro exercita e melhora a memória, assim como a capacidade de concentração e o pensamento crítico. Ainda mais, os estudiosos consideram que o xadrez ajuda igualmente à socialização, favorecendo a integração de crianças e jovens em ambientes escolares, tendo ainda a vantagem adicional de ensinar aos mais jovens que as regras devem ser respeitadas.
Já o consumo massivo da série Emily em Paris provocou um aumento de buscas online pelos termos “francês” (47%) e “Paris” (43%). Mais uma vez, as vantagens são evidentes, sobretudo tendo em conta que a implementação do consumo da Internet e dos smartphones tem provocado problemas de foco, atenção e interesse nos jovens em todo o Mundo.
Mas outros impactos são menos previsíveis e compreendidos: devido à série The Crown determinadas roupas ou tendências, como “terno azul”, “laço na gola” ou “gola alta” tornaram-se moda no vestuário. Curioso, não?
Quais são as principais consequências do vício das séries em TV?
Diversos estudos apontam que por trás do sucesso das séries de televisão estão factores como a qualidade de produção, a diversidade temática, o tipo de estudo, a distribuição e as personagens.
Em primeiro lugar, as séries copiam os mestres da produção cinematográfica, o que significa uma maior qualidade e atenção dada à construção e realização da história (por exemplo, a construção das personagens, do cenário, da música, etc.).
Em segundo lugar, as séries oferecem uma ampla gama de questões. Na verdade, a variedade de canais de televisão permite a produção de séries para nichos de mercado específicos.
Em relação à história, as séries televisivas têm um formato semelhante à “literatura serial”, o que mantém o espectador em suspense e o obriga a ver o próximo capítulo.
Em quarto lugar, o desenvolvimento tecnológico permite-nos hoje desfrutar das nossas séries preferidas em qualquer canal – televisão aberta, TV paga, TV na Internet, aluguer e compra de episódios – e a qualquer momento.
O fator de sucesso final merece atenção especial: as personagens. A série conta a história de um grupo de personagens – principais e secundários – por um longo período de tempo. Este longo arco narrativo oferece a possibilidade de criar personagens complexos que são bem construídos e apresentados em detalhes ao longo das várias temporadas. Essa profundidade nas personagens permite-nos “entrar” dentro delas, conhecê-las e devido à nossa própria natureza, estabelecer relações empáticas com elas.
Essa empatia com as personagens é um processo que pode ter diferentes etapas, que podem aumentar ou não.
O primeiro nível é a empatia cognitiva que consiste em compreender as personagens principais e as suas circunstâncias, que na linguagem coloquial traduz-se em “colocar-se no lugar deles”.
O segundo nível é a empatia emocional, que se refere ao envolvimento afetivo, ou seja, o espectador preocupa-se com os problemas das personagens, sentindo alegria com os golpes de sorte do personagem, ou sentindo angústia ao ver um perigo que aguarda a heroína da série. É importante especificar que essa empatia emocional vai além do fato da personagem ter um código moral inteiramente bom ou mau.
Um nível mais alto é o que chamam de empatia de avaliação: uma avaliação básica e aprovação das personagens. Isso pode traduzir-se em crenças como: “Gosto desta personagem e portanto ela é boa” – não na medida de um verdadeiro julgamento moral, mas na medida em que o personagem provoca sentimentos positivos. (Não esqueçamos, porém, que ainda estamos a falar de um nível emocional).
Porém, o nível mais alto é a empatia projetiva: a capacidade de fantasiar, de “se tornar a personagem”, “como se” você fosse uma das estrelas enquanto assiste a série. Essa fantasia torna o espectador capaz de antecipar situações que as personagens vão enfrentar ou inferir quais serão as consequências dos seus atos.
A progressão por esses níveis de empatia possibilita uma identificação com as personagens. Essa identificação pode ser feita em 2 modos distintos.
A primeira é como percepção de semelhança, que consiste em avaliar em que medida o espectador se assemelha aos personagens. Essa semelhança será facilitada se o personagem e o público compartilharem características como sexo, idade, classe social ou proximidade cultural.
A segunda identificação é aspiracional. Nesse caso, a atração pelos personagens não é explicada pela percepção de semelhança, mas por uma admiração ou atração geral, e são escolhidos como modelos aqueles que refletem o que se deseja ser ou alcançar.
Por tudo o que foi explicado em cima é muito importante entender os reais impactos que uma série de TV pode provocar. E estar alerta!
Confira as infografias em baixo!