Frida: o filme que nos mostra o Amor, a Dor e a Arte de Frida Kahlo
É em 2003 que, durante a cerimónia de entrega dos Óscares da Academia, o filme Frida leva para casa 2 estatuetas douradas. Ainda que tenha falhado na vitória da categoria principal para Salma Hayek, que veste a pele da artista mexicana, o filme triunfou nas categorias de melhor maquilhagem e banda sonora.
Todavia, o seu valor supera em muito as distinções honorárias: atrevo-me a dizer que o ponto de distinção do filme Frida passa por contar a história de uma artista que, melhor do que ninguém, nos fez sentir a sua dor através da pintura.
Ao longo do filme, conhecemos a vida que Frida Kahlo partilha abertamente com Diego Rivera e a tormentuosa relação do casal consigo e com a arte. Desde a longa e complexa relação que Frida desenvolve com o seu marido e mentor, passando pela seu ilícito e controverso caso amoroso com Trotsky, até aos provocadores e românticos relacionamentos com mulheres.
Nos próximos parágrafos vamos aprofundar a vida de Frida Kahlo, para suscitarmos em si a curiosidade de que necessita para ver o filme. Para tal tarefa, decidimos procurar citações da própria Frida Kahlo, de forma a traçar uma representação fidedigna da artista que nos deixou um legado cultural muito vasto.
Frida Kahlo: a mexicana que seduziu os Estados Unidos e a Europa
“Nada é preto, definitivamente nada”, escreveu Frida Kahlo num de seus diários. O equilíbrio entre dor e esperança é uma das chaves para analisar a artista, fonte de interesse inesgotável que, em parte, bebe do mito criado ao seu redor.
Magdalena Carmen Frida Kahlo Calderón nasceu no dia 6 de julho de 1907 na Casa Azul, no bairro de Coyoacán, o mesmo lugar onde faleceu em 1954, deixando cerca de 200 obras, um romance passional e tumultuado com Diego Rivera e a marca de um caráter rebelde que rompeu com as convenções.
Para a académica Eli Bartra, o reconhecimento nacional e internacional de Frida tem uma parte “legítima”, mas também outra que responde ao “marketing” e que deixa em segundo plano o valor de sua produção artística.
Em declarações à imprensa, a professora da Universidade Autónoma Metropolitana e autora de Frida Kahlo – Mujer ideología y arte (2003), defende que o mito da artista surgiu nos Estados Unidos e na Europa, onde consideraram que a sua figura era “muito exótica, impactante e crítica, embora não seja o quesito crítica que lhes interesse”.
Entretanto, Frida provocou um grande impacto, mas o mesmo não aconteceu, por exemplo, com María Izquierdo (1902-1955), ainda que, segundo a professora, a sua obra possa ser considerada “tão exótica quanto a de Frida e sua vida, tão ou mais triste”. Para ela, o nome de Frida passou a ser icónico por uma “conjunção de fatores”.
Porque se tornou Frida Kahlo um ícone?
Não há sombra de dúvidas de que a obra de Frida é marcada pela presença da dor, uma vez que esta dor sempre se evidenciou na sua vida, desde a infância e até aos seus últimos dias. Em pequena, contraiu poliomielite e aos 18 anos a vida deu uma reviravolta quando o autocarro onde estava sofreu um acidente. A tragédia não foi generosa com o corpo de Frida Kahlo, que fraturou a coluna, vários ossos e ficou de cama por meses. Presa a uma cama, a artista decidiu voltar-se para os pincéis e tintas para combater o tédio e passar o tempo.
É essa mesma dor física que Frida Kahlo consegue transportar para as suas obras, em pinturas como “La columna rota”, um autorretrato em que o seu tronco aparece dividido em dois para mostrar a coluna quebrada em três partes. Não é fácil olhar para estas obras. Por sua vez, o sofrimento da alma brota em criações como “La cama volando”, onde mostra um dos abortos que teve e trabalho no qual está latente uma das dores que mais atormentou Frida: o facto de nunca ter conseguido filhos.
Entretanto, fora do México o que chamou a atenção do público foi a história da “pobre mulher do terceiro mundo que, apesar de tudo, é uma grande artista”.
“O marketing, que fez com que tantas obras da pintora estejam em itens como jogos, cadernos e camisetas, apoderou-se da sua figura, vida e obra, com o intuito puro e simples de lucrar”, afirmou Eli.
Josefina García, uma das diretora do Museu Dolores Olmedo – que possui uma das coleções mais importantes de Frida Kahlo -, defendeu que a soma das dimensões artística e comercial são o que constituem a “riqueza” da figura da artista. Para a directora do museu, uma pessoa pode aproximar-se da pintora através dos produtos e da mesma forma ficará “fascinada” por quem foi Frida Kahlo como artista e pessoa.
“Isso é o que dá à ela o valor além do marketing e o que faz com que seja uma artista tão bem-sucedida”, justificou. De acordo com Josefina, Frida conquista tanta admiração entre os visitantes dos museus porque, entre eles e ela, cria-se um vínculo, graças ao componente autobiográfico das suas pinturas.