Por detrás da mente do cineasta sueco Ingmar Bergman
O conceituado realizador sueco Ingmar Bergman (nascido no Uppsala, no dia 14 de julho de 1918) era filho de um pastor luterano. Ao longo da sua vida e trabalho, as suas origens pesaram frequentemente no desenvolvimento das ideias e preocupações morais que tinha. Mesmo quando o contexto de sofrimento das personagens nos seus filmes ‘não era abertamente religioso’, as personagem estavam sempre numa constante demanda para encontrarem padrões morais de julgamento, a submeterem-se a um rigoroso exame da ação e motivação no que toca aos conceitos do bem e do mal, do certo e do errado e do que parece particularmente apropriado para alguém que cresceu numa casa estritamente religiosa.
A arte religiosa influenciou também a infância de Ingmar Bergman. No trabalho do realizador sueco é frequente encontrarmos representações primitivas e gráficas de histórias e parábolas bíblicas encontradas em igrejas. Esta arte sacra fascinou Bergman e deu-lhe um interesse vital para a apresentação visual de ideias, especialmente a ideia do mal como incorporada na figura do diabo.
No que toca à sua formação, Ingmar Bergman frequentou a Universidade de Estocolmo, onde estudou arte, história e literatura. Aí, envolveu-se apaixonadamente no mundo do teatro e da representação, começando a escrever argumentos, a atuar em peças e a coordenar produções de estudantes. Daqui, passou para o Teatro Olofsgärden e o Teatro Sagas, onde produziu uma produção espetacular não convencional e desastrosa do dramaturgo sueco August Strindberg.
Ingmar Bergman: de encenador a cineasta
Em 1944, Ingmar Bergman conseguiu o seu primeiro emprego como encenador, no teatro municipal de Helsingborg. Além disso, e mais importante, conheceu Carl-Anders Dymling, o chefe da Svensk Filmindustri. Dymling ficou suficientemente impressionado com o trabalho de Ingmar Bergman para lhe encomendar um argumento original para o filme Hets (1944).
O filme foi realizado Alf Sjöberg e teve um enorme sucesso, tanto na Suécia como no estrangeiro. O sucesso foi de tal forma tremendo que, em 1945, foi dada a Ingmar Bergman a oportunidade de escrever e dirigir um filme de sua autoria, Kris. A partir daí, a sua carreira começou a avançar a alta velocidade.
Nos cinco anos que se seguiram, os filmes que Ingmar Bergman escreveu e realizou focaram-se essencialmente em aspectos da sua própria vida, ainda que não fossem directamente autobiográficos: o papel de um jovem numa sociedade mudada, que sofre um malfadado amor jovem e tem de passar pelo serviço militar.
No final de 1948, realizou o seu primeiro filme baseado num roteiro original da sua autoria, Fängelse (1949). Nessa longa-metragem, recapitulou todos os temas dos seus filmes anteriores para dar forma a uma história complexa, talvez demasiado ambiciosa, construída em torno dos problemas românticos e profissionais de um realizador de cinema que pondera fazer um filme baseado na ideia de que o diabo governa o mundo.
Em 1951, a carreira de Ingmar Bergman no cinema, quase como toda a produção cinematográfica sueca, sofreu uma paragem abrupta como resultado de uma grande crise económica na Suécia. Mas em 1952 o realizador voltou com dois filmes, Kvinnors Väntan (Segredos das Mulheres) e Sommaren med Monika (Verão com Monika), que marcou o início de sua obra madura. Por esta altura, foi também nomeado diretor do teatro municipal Malmö, onde permaneceu até 1959.
Esta nova fase introduziu duas novas características que marcaram o seu trabalho. Bergman era agora casado e muitas das suas perspetivas tinham mudado: nos seus filmes, começámos a ver personagens que se tentam ajustar a uma vida a dois, a analisar os motivos que tinham para ser fieis ou infiéis ao outro, e como os seus comportamentos mudavam a partir do momento em que tinham filhos e se tornavam pais.
Neste momento Ingmar Bergman começa a reunir nos seus filmes uma “sociedade anónima” de atores – incluindo na lista Bibi Andersson, Gunnar Björnstrand, Eva Dahlbeck, Erland Josephson, Ingrid Thulin, Liv Ullman e Max von Sydow – com quem foi trabalhando regularmente ao longo da sua carreira.
Em 1955, Ingmar Bergman teve o seu primeiro grande sucesso internacional, com Sommernattens Ieende (Sorrisos de Uma Noite de Verão), uma romântica comédia/drama que tem como pano de fundo um cenário de época. Nos anos seguintes, Bergman varre a cena internacional de cinema: os seus novos filmes, entre os quais as duas obras-primas, O Sétimo Selo (1957), um jogo de moralidade medieval e Morangos silvestres (1957) , uma meditação sobre a velhice,consagram-no como uma das figuras mais importantes do cinema.
Os últimos anos de Ingmar Bergman
Inevitavelmente, Bergman continuou a fazer filmes e peças de teatro diretamente relacionadas com a atividade inalterada. A sua trilogia de filmes, Através de um Espelho, Luz de Inverno, e O silêncio, lidam com a linha que separa a sanidade da loucura. Por esta altura, Bergman adquiriu uma casa de campo na ilha desolada de Faro, na Suécia. Este espaço surge numa série de filmes como Vargtimmen, A Hora do Lobo e Skammen: todas estas películas contam dramas de conflitos internos que envolvem sempre um grupo pequeno e coeso de personagens.
Ao longo dos anos, Bergman continuou a encenar peças de teatro enquanto se dedicava ao mundo do cinema. Em 1977, recebeu a Grande Medalha de Ouro da Academia Sueca de Letras, e no ano seguinte o instituto do cinema sueco estabeleceu um prémio de excelência na produção de filmes com o seu nome. Fanny och Alexander (Fanny e Alexander), o filme que conta as aventuras e desventuras de uma família sueca rica na passagem do século valeu-lhe por fim o Óscar de melhor filme estrangeiro.
Ingmar Bergman morreu no dia 30 de julho de 2007, em Faro, onde se encontra sepultado. Para trás, deixou uma marca na história do cinema, especialmente do sueco, e muitos dos seus filmes continuam hoje a ser vistos e revistos por todos os que estudam cinema.