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Kika: recordar um clássico de Pedro Almodóvar

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Kika: recordar um clássico de Pedro Almodóvar

by Eduardo Aranha

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O realizador espanhol Pedro Almodóvar habituou desde cedo o seu público a um tipo de filme que mistura comédia com drama, géneros que surgem frequentemente embrulhados em enredos que envolvem sexualidade, drogas e família. Desde que obteve a sua consagração internacional com o êxito Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos que aprimorou as suas técnicas, desenvolvendo um acutilante e caricato humor negro.

Em 1994, chegou às salas de cinema o filme Kika. Nesta longa-metragem, que tem Verónica Forqué como protagonista, somos introduzidos a enredos menos pesados (pelo menos para aquilo a que Almodóvar nos habituou). Entre uma galeria de personagens estranhas, vemos serem abordados no ecrã temas como o voyeurismo, autoflagelação, uma violação que nos faz rir (se é que tal é possível) e uma estranho instrumento sexual.

Neste post, é sobre este filme que falamos. Ao longo dos próximos parágrafos vamos falar de alguns dos enredos desta história, assim como das suas personagens bizarras e estranhas.

Kika: sensualidade controversa e a sátira dos estereótipos

Kika é uma mulher atraente, uma verdadeira bombshell, que trabalha como maquilhadora e afeta, ainda que inconscientemente, todos aqueles por quem passa com o seu sexappeal. Não acreditam? O início do filme não deixa margem para dúvidas de que é exatamente este o efeito de Kika.

A personagem entra na história quando é chamada para maquilhar o cadáver do enteado de Nicholas Pierce, um autor norte-americano que ficou viúvo e escreve policiais. Pouco depois de se debruçar sobre o corpo do jovem Ramon, para começar a maquilhar a sua pele pálida, Kika fica completamente aterrorizada ao ver o rapaz acordar. Afinal de contas não estava morto, apenas em transe.

Uma vez que se trata de um filme de Pedro Almodóvar, nem estranhamos quando Kika se envolve amorosamente com Ramon. Este, por sua vez, é especialista em tirar fotografias ao mundo da moda: fotografa modelos em lingerie com a sua máquina Polaroid. Esta máquina fotográfica, aliás, acompanha Ramon para onde quer que vá, até mesmo quando está na cama com Kika: uma das várias manifestações de voyeurismo que encontramos neste filme. O vizinho que vive ao lado do apartamento de Kika, por exemplo, também adora espiar o casal.

Eventualmente, somos introduzidos no filme a Andrea Caracortada, vivida por Victoria Abril, uma apresentadora de televisão que foca o seu programa na análise de crimes. Esta clara sátira ao mundo televisivo levou mesmo Pedro Almodóvar a ponderar se o filme não devia receber o mesmo nome que o programa de Andrea Caracortada. Porém, desistiu rapidamente da ideia. Afinal de contas, o programa chama-se “O Pior do Dia” e isso não ia sair bem nas reviews que fizessem ao seu filme, pois não?

 

Sem pôr de lado ainda a personagem de Andrea Caracortada, resta-nos dizer que é de facto dotada de um uma série de atributos satíricos: com um vestido apertado, que quase deixa exposto o seu peito, retrata de uma forma histérica e sensacionalista os detalhes criminosos dos casos que introduz no seu espaço televisivo.

Entretanto, os caminhos de Andrea e Kika cruzam-se quando a protagonista é violada, de uma forma caricata mas que mesmo assim pode tocar os mais sensíveis.

Entre as personagens deste filme temos de falar ainda de Nicholas Pierce, o pai de Ramon, que vai a um outro programa de televisão para tentar convencer a apresentadora – que tem o aspeto de uma avozinha – que os autores americanos têm de facto uma tendência para matar as suas esposas.

E, claro, não podemos terminar este post sem uma referência à relação incestuosa de Juana com o seu irmão Pablo. Embora o seu sonho seja o de gerir uma prisão, Juana vê o seu sonho tornar-se cada vez mais longínquo.

Com cores vivas, cenários kitsch e um guarda-roupa muito andrajoso – parte do qual foi fornecido por Gianni Versace – o filme Kika conta com uma energia visual que, uma vez mais, cativa a audiência. O enfoque é sempre dado a Verónica Forqué e Victoria Abril: que provam que as mulheres, nos filmes de Almodôvar, brilham sempre mais do que as personagens masculinas.

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