Amélie: vagueando por Paris à procura da felicidade
Não há nenhum filme como o Le fabuleux destin d’Amélie Poulain. Vi-o pela primeira vez no dia em que fiz 18 anos. Convidei duas amigas para virem lá a casa e decidimos passar parte da tarde a ver um filme. A escolha recaiu no filme francês de Jean-Pierre Jeunet, lançado em 2001 e que contava com a belíssima banda sonora de Yann Tiersen. Mesmo antes de ver o filme, já conhecia algumas das cenas e a própria atriz que veste o papel de protagonista, a francesa Audrey Tautou. No entanto, não estava à espera da história.
O filme segue a peculiar Amélie Poulain, uma menina que cresceu num mundo isolado de todas as outras crianças e que tem a sua forma de ver a realidade. Esta visão ligeiramente esquizofrénica de ver o mundo é muito bem retratada através de efeitos que dão vida a objetos inanimados.
E não estou a falar de efeitos baratos que parecem estranhos ao olhar, mas sim de efeitos que colocam no ecrã algo que os nossos olhos poderiam ver no dia-a-dia e aceitar com naturalidade, como o porquinho no candeeiro de Amélie que estica o braço de porcelana para apagar a luz. Sabemos que isso nunca aconteceria mas, se acontecesse, ia acontecer exatamente daquela forma.
Além disso, aquilo que Amélie e as personagens sentem é retratado vividamente através de imagens, por vezes a preto e branco e com sons únicos, que nos levam diretamente para o interior da mente das personagens. Os olhares que Amélie troca com a câmara, como se soubesse que estamos a ali a vê-la, aproximam-nos também da personagem, como se consentisse em partilhar aqueles bocadinhos da sua vida.
Amélie: a busca pela felicidade… dos outros
Amélie é especial por dois motivos. Primeiro, porque os seus pais acreditam (embora que erradamente) que o seu coração bate mais rapidamente que o das outras crianças. Sempre que fazem exames médicos o coração de Amélie palpita a uma velocidade fora do normal.
Segundo, porque Amélie cresceu e foi educada longe de todas as outras crianças e de brincadeiras excitantes que pusessem em risco o seu pobre coração. Porém, como descobrimos rapidamente, o coração de Amélie só trabalha desta forma porque é o seu pai que a deixa nervosa.
Relembrando o velho ditado que diz que é de ‘pequenino que se torce o pepino’, percebemos que é de facto a infância e a criança em Amélie que determina o seu destino. Assim, ao tornar-se maior de idade, muda-se para o bairro de Montmartre, em Paris e começa a trabalhar como empregada de mesa no Café des 2 Moulins.
E tudo continua normal na vida de Amélie – dentro dos seus próprios padrões – até ao dia em que encontra uma caixa com brinquedos na casa de banho do seu apartamento. Certa de que aqueles brinquedos são especiais para alguém, decide partir numa demanda para encontrar o dono da caixa – um tal de Dominic – e entregar-lhe os brinquedos de forma anónima.
Ironicamente, é assim mesmo que acaba por tropeçar na sua própria felicidade, ao conhecer Nino e ao sentir finalmente algo que nunca julgou ser capaz de sentir: amor.
Que linda matéria sobre este magnífico filme… Amei!