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Perdido em Marte: um bom filme com potencial para mais

Perdido em Marte: um bom filme com potencial para mais

by Tiago Leão

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Não foi de forma irrefletida que escolhi o título deste artigo. Arrebatado pela febre em torno de Perdido em Marte, fui um dos muitos que aguardaram ansiosamente a estreia do filme nos cinemas. Antes de assistir à película, fiz questão de comprar o livro, mas no final acabei por ficar com a impressão de que ambas as obras tinham potencial para (muito) mais.

Sem desprimor para os nomes envolvidos, devo deixar claro que Perdido em Marte não é um mau filme, nem tampouco uma perda de tempo. Talvez por ter colocado uma fasquia elevada, o filme não foi capaz de superar expectativas pessoais, ficando aquém daquilo que parecia prometer. Apesar dos contras, não há como não deixar elogios ao elenco e congratular a mestria de Ridley Scott na transformação de um cenário inóspito numa das mais belas paisagens vistas no grande ecrã.

Hoje, quando me perguntam se Pedido em Marte vale realmente a pena, respondo que sim, se aquilo que procuramos é uma peça de entretimento eficaz como se pretende que seja, com uma carga dramática q.b. e capaz de nos prender durante 144 minutos. Se tinha potencial para mais? Sim, mas no fundo também não desilude. Afinal, o quão desinteressante pode ser a história de um astronauta que acaba por ser deixado em Marte na sequência de uma missão espacial que correu mal?

E é precisamente esse astronauta que vamos acompanhando ao longo do filme. Na pele de Mark Watney, Matt Damon regressa em grande num papel especialmente difícil. Sendo literalmente o último homem à face do planeta, Damon raramente contracena com outros atores. A comunicação quase inexistente é feita através do computador, restando as vozes na sua cabeça e os monólogos que, apesar da situação dramática, se mantêm maioritariamente bem-humorados.

Mas, antes de avançarmos, importa conhecermos um pouco mais sobre o nosso herói. Quem é ele e o que lhe aconteceu? Botânico e engenheiro, Watney faz parte da missão Ares III, cujo objetivo era chegar a Marte, recolher algumas amostras e regressar à Terra. Tudo parece correr bem, quando a tripulação é apanhada por uma enorme tempestade. Os ventos fortes fazem com que a antena de comunicações se solte e, no caminho para o MAV (veículo que faz a travessia entre a nave espacial e o planeta), Mark é atingido.

Numa situação de risco, a tripulação é obrigada a regressar ao espaço, deixando Mark para trás. As probabilidades de ter sobrevivido são praticamente nulas, pelo que deram por encerrada a missão e resolvem voltar a casa. Para surpresa de todos (até do próprio), a antena que atingiu Watney, na verdade, salvou-lhe a vida, isolando o fato de astronauta e permitindo que vivesse para contar a história. Quando acorda do desmaio, Watney é confrontado com a realidade: está sozinho em Marte, não tem como comunicar com o planeta Terra e a única esperança de resgate é esperar quatro anos pela próxima missão espacial, o Ares IV.

Como sobreviver até essa altura? Como contornar o problema de comunicação? Como fazer com que a comida dure mais umas centenas de dias? Bem, são estas e outras questões a que precisa de dar resposta. Obviamente, nem tudo corre bem: improvisando ao máximo, Watney usa os conhecimentos que possui para sobreviver, ignorando medidas de segurança da NASA e escolhendo o pior dos males. Curiosamente, são os constantes enigmas que lhe permitem manter a sanidade, entretendo-o quando não há nada para fazer. Isso, as séries televisivas e a música Disco deixada pela comandante, Melissa Lewis.

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Perdido em marte, mas raramente só

Apesar de passar o filme inteiro sozinho, Matt Damon não é o único protagonista de Perdido em Marte. Quando a história deste ameaça ficar aborrecida, as cenas cortam para outros personagens. Jessica Chastain, comandante Lewis, tem um dos papéis mais importantes do filme, mas também ela não está só. Da sua tripulação fazem parte os também astronautas Rick Martinez (Michael Peña), Beth Johanssen (Kate Mara), Chris Beck (Sebastian Stan) e Alex Vogel (Aksel Hennie). Um dos pontos mais positivos é a interação do grupo, equipado com um sentido de humor interessante, reforçado pelos anos que passaram no treino e na viagem em si.

 

Mais perto, cá na Terra, vamos acompanhando a reação ao facto de a NASA ter perdido um astronauta no espaço. As pressões mediáticas são uma constante, sendo trazidas por Annie Montrose (Kristen Wiig), uma assessora de calças sem paciência para paninhos quentes. Jeff Daniels é Teddy Sanders, diretor da NASA e figura máxima da instituição, Chiwetel Ejiofor é Vince Kapoor, responsável pelas missões a Marte, e Sean Bean é Mitch Henderson, chefe de operações que partilha com a tripulação uma relação mais pessoal. À medida que o filme avança conhecemos também Mindy Park (Mackenzie Davis), uma controladora de satélites insatisfeita com o seu trabalho, e Rich Purnell (Donald Glover), um especialista no cálculo de ângulos e rotas.

Embora Marte seja o local onde se passa a ação principal, grande parte do filme desenrola-se na Terra. O “marciano” não está só e é interessante acompanhar a forma como os terráqueos vão assistindo à aventura de Watney à distância. Como referido, as pressões políticas e mediáticas não ficam de fora e, por cá, as peripécias não são nem um pouco desinteressantes. O terceiro espaço de ação é a nave espacial do programa Ares, um belíssimo veículo de viagem espacial, capaz de impressionar os fãs de Star Trek e Star Wars. “Quando for grande, quero uma igual”, pensei na altura.

Posto isto, devo dizer que a linha temporal seguida e o facto da ação não se restringir a Marte são aspetos a elogiar. Watney continua a ser a figura central, mas, a certo ponto, o salvamento implica mais do que ele próprio. A amplitude mediática do caso envolve todo o planeta: de Nova Iorque até à China, milhões de pessoas aguardam o desfecho da história.

Filme, livro ou ambos?

Tal como acontece na maioria dos casos, na minha opinião, aqui também podemos afirmar que o livro supera o filme. No entanto, há um fator que distingue este de outros casos: refiro-me ao facto de a película servir como um excelente complemento à imaginação dos leitores. Tratando-se de um livro repleto de equipamentos futuristas e cheio de detalhes técnicos, às vezes torna-se difícil acompanhar o pensamento de Watney e perceber de que forma é que tudo aquilo que executa é realmente exequível.

o-marciano-mundo-de-cinemaCom a imagem, o acompanhamento da história torna-se muito mais fácil e aí há que dar novamente os parabéns a Ridley Scott e à equipa de produção. Como referido, os cenários são quase magnéticos e não tardam a conquistar o olhar. Algumas cenas importantes ficaram de fora e, para quem só assistiu ao filme, há ações que carecem de uma explicação. Pessoalmente, uma das coisas de que mais senti falta foram os monólogos interiores que, logicamente, no livro são mais longos e aprofundados.

Outro aspeto curioso – mas este mais subjetivo – é o facto de ter achado o Watney do livro menos “pesado” do que o do filme. Aqui o mérito é de Matt Damon, que, a meu ver, foi capaz de colmatar uma das lacunas do livro: o excessivo otimismo (às vezes em demasia) do personagem principal. Desta forma, o ator conseguiu também fazer com que não se notasse tanto uma das maiores críticas que tenho a fazer às duas obras.

Se estivesse perdido no espaço, não ocuparia o tempo (pelo menos, parcialmente) com recordações de familiares ou até passaria em revista alguns dos episódios mais importantes da sua vida? Fazendo a transposição para outro filme, fica a impressão de que falta a Perdido em Marte um pouco do que houve em 127 Horas, obra protagonizada por James Franco, onde um homem preso num desfiladeiro regressa no tempo para recordar episódios marcantes da sua vida.

Apesar de ter entretido, falta a Watney alguma dimensão humana: o filme faz bem em mostrar o lado divertido – mostra inclusive as saudades de casa -, mas peca pela pouca introspeção no que toca a questões relativas à história do próprio personagem. Apesar de passarmos mais de uma centena de SOL’s (dias marcianos) com Watney, pouco acabamos por saber do seu passado, das suas relações pessoais ou dos motivos que o fazem querer regressar. Ainda assim, vontade de viver parece ser motivo suficiente e é um facto que os astronautas estão treinados para passar dias a fio isolados no espaço.

Por último, adianto apenas aos leitores que o final do filme é diferente do final do livro assinado por Andy Weir. Apesar das críticas, esta curiosidade por si só é, a meu ver, motivo suficiente para irmos às salas de cinema.

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