Cinema Notebook: um projecto de vida dedicado à 7ª Arte
Hoje começamos uma nova rubrica que espero seja do agrado não apenas dos nossos leitores, mas também de todos aqueles que desenvolvem projectos na blogosfera de língua portuguesa.
Como além de bloggers, a equipa do Mundo de Cinema é sobretudo composta por adeptos da partilha de conhecimento livre através da Internet, decidimos que estava na hora de entrevistar os autores de blogs de referência no vasto universo cinéfilo online.
Para isso lançamos um desafio a vários bloggers que não só admiramos como respeitamos, e cujo trabalho sempre serviu de inspiração para o Mundo de Cinema. Felizmente foram bastante as respostas positivas e assim hoje começamos a publicação destas entrevistas pelo Cinema Notebook, que foi o primeiro blog de cinema a responder ao nosso desafio.
Fundado em 2004, o blog fundado por Carlos Reis mantém uma regularidade exemplar, contribuindo bastante para divulgar informação de qualidade sobre cinema, séries, cultura.
Num artigo recente intitulado 13 Anos de Cinema Notebook, Carlos Reis reflecte em voz alta: “Treze anos de blogue feitos no passado dia nove de Outubro. Destes treze, os últimos onze contam com pelo menos uma publicação por dia. Sem excepções. Qual diário de uma vida cinéfila – e não só. Tantas histórias por contar, tantas mais para viver. Porque já não é um hobbie ou uma distracção; é um projecto de vida.”
Mais do que apresentar notícias ou novidades do cinema nacional e internacional, o Cinema Notebook publica análises, curiosidades, antevisões, pincelando tudo isso com humor cinéfilo, memorablia e trailers, criando assim um espaço único onde fica bem a patente a paixão do seu autor e fundador.
Carlos Reis faz tudo sozinho e assim deseja continuar, conforme explica na entrevista que publicamos em baixo e que pode ler já a seguir. Mas antes resta ainda agradecer a disponibilidade, simpatia e espírito de partilha do autor deste site sensacional, que recomendamos a todos os amantes do Cinema.
Confira agora a entrevista completa com Carlos Reis do Cinema Notebook
Mundo de Cinema (MC): Qual foi o principal motivo para o nascimento do blog?
Carlos Reis (CR): Muito tempo livre na então nova vida de universitário, uma paixão crescente pelo cinema que advinha de uma ligação quotidiana aos newsgroups nacionais e uma admiração tremenda por um blogue que surgiu uns meses antes chamado CinemaXunga. Tudo somado e pareceu-me natural criar o meu próprio espaço de opinião.
(MC): Qual é a missão do projecto?
(CR): Durante os primeiros sete ou oito anos, nunca tive uma missão ou objectivo específico com o blogue. Era um mero passatempo, uma forma de escape às responsabilidades do dia-a-dia. Hoje não. Hoje olho para o mesmo e vejo nele um livro de recordações. Um diário cinéfilo que consultarei com saudosismo daqui a cinquenta anos, relembrando momentos e histórias que de outra forma ficariam esquecidas no tempo. E imagino os meus filhos e netos a descobrirem o “cadastro” artístico do pai/avô.
(MC): Qual a regularidade das publicações de novos posts?
(CR): Há mais de dez anos que publico uma entrada por dia. Mas calma, muitas vezes é com batota. Quando não o consigo fazer no próprio dia, publico posteriormente com as datas em falta no passado, de maneira a deixar o blogue com o seu formato de diário.
(MC): Existe uma equipa por detrás do projecto? Quantos são? O blog tem abertura para receber novos colaboradores ou é um projecto fechado nesse aspecto?
(CR): Não. Sempre foi um espaço individual e assim continuará a ser. Mantenho alguns projectos colectivos, como um podcast de cinema (Nas Nalgas do Mandarim), mas o Cinema Notebook não faz sentido ser partilhado.
(MC): Fazes este trabalho de forma amadora ou profissional? A sobrevivência do projecto depende da monetização do blog (publicidade, programas de afiliados, posts patrocinados)?
(CR): De forma completamente amadora e sem recurso a qualquer tipo de monetização. Como qualquer blogue deve ser abordado e construído, na minha opinião. Pelo menos para manter algum encanto e pureza. Chamem-me um romântico da blogosfera, se quiserem, mas recuso-me a transformar o blogue num negócio, a vender-me, ainda para mais por meia dúzia de tostões. É assim, livre de promoções, publicidades, visionamentos e passatempos, que me mantenho isento e independente a cem por cento. Falo mal ou bem de quem quero, quando quero. Com ou sem razão.
(MC): A tua profissão está ligada a esta área do cinema?
(CR): Não, nada. Sou Controlador de Tráfego Aéreo.
(MC): Existe algum tipo de parceria com outros blogs ou marcas? Se sim, quais e qual o seu âmbito?
(CR): Não faço parcerias. Divulgo sim, por mérito próprio, qualquer espaço, projecto, filme ou publicação que mereça. Chegue lá eu sozinho ou que me peça alguma visibilidade por e-mail ou contacto no Facebook, por exemplo. E outros blogues de cinema, por manterem a chama original da blogosfera viva. Aquela que acalorava uma comunidade unida de dezenas e dezenas de blogues activos na década passada.
(MC): Qual a importância das redes sociais para o projecto?
(CR): A interacção com os leitores/seguidores passou do blogue para as redes sociais, principalmente para o Facebook e o Twitter. Foi uma evolução natural. Má para a memória - um comentário no blogue torna-se eterno e de fácil consulta, nas redes sociais perde-se rapidamente - mas bom para a discussão de ideias e para a divulgação do que é publicado. Antes uma discussão nas caixas de comentários demorava duas semanas, hoje demora duas horas. Ainda assim, faço o reencaminhamento para as redes sociais de apenas uma parte do que é publicado, talvez um em cada cinco ou seis posts. Talvez seja parvoíce, mas é uma forma de premiar quem visita o blogue. E de dar relevo ao que acaba nas redes sociais, não ser simplesmente uma enchente de informação com mero objectivo promocional. Não me interessa se um post meu tem 100 visualizações ou 500. Interessa-me sim se tem zero comentários ou vinte. Porque o feedback sobre um certo filme, série ou opinião é fundamental para o entender melhor ou para me explicar melhor.
(MC): Gostavas ou tens intenção que este blog um dia evoluísse da Internet para se transformar num negócio, marca, serviço ou empresa?
(CR): Não, de todo. Gostaria, quem sabe, de um dia fazer parte de um projecto colectivo ligado à crítica de cinema com outras ambições, acessos e reputação - uma revista de cinema, por exemplo -, mas mantendo sempre o Cinema Notebook num plano individual e pessoal.
(MC): Qual é o balanço (face aos objectivos, resultados e feedback dos utilizadores) que é possível fazer hoje deste projecto?
(CR): Muito, muito positivo. Já conheci uma mão cheia de pessoas, hoje bons amigos, graças ao blogue e a eventos relacionados com este. Só isso é suficiente para o balanço ser mais do que positivo.
(MC): Sobre as mudanças ocorridas na indústria do Cinema e TV nos últimos anos recaem muitas opiniões diversas. O que tu achas? O Cinema no geral beneficiou com a Internet?
(CR): O que é o Cinema? A resposta de cada um a esta pergunta definirá a opinião em relação a esse tema. Na verdade, não creio sequer que a resposta seja pertinente, pois tenha beneficiado ou não, a verdade é que todos os “players” têm que se adaptar constantemente às circunstâncias e mercados de cada momento. Mas os cinéfilos e aspirantes a cinéfilos, esses, não tenho dúvida nenhuma que beneficiaram com o mundo de possibilidades, descobertas e redescobertas que a Internet oferece.
(MC): E já agora, para terminar, qual o conselho ou dicas que podes dar aos bloggers que estão a começar agora neste tipo de projectos online?
(CR): Façam-no por prazer e não por outra coisa qualquer. A quantidade de gente que conheço que criou um blogue com o objectivo de um dia receber tralhas, vouchers, convites e prendinhas em casa é triste. E resultam quase sempre no mesmo: ao fim de uns meses, acabam. É o chamado efeito das Carlotas e das Pipocas Doces. Não se esqueçam é que para cada Cristiano Ronaldo, existem quinhentos Fábios Paíns. E os Cristianos Ronaldos são o que são porque o fazem com gosto.
INFO E LINKS OFICIAIS CINEMA NOTEBOOK
NOME: Cinema Notebook
BLOG: http://cinemanotebook.blogspot.pt/
ANO DE CRIAÇÃO: 2004
AUTOR: Carlos Reis
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