Nine: um musical italiano sobre paixão e mulheres
O filme Nine, dirigido por Rob Marshall – o mesmo realizador de Chicago e Memórias de uma Gueixa – marcou presença nos cinemas portugueses no início de 2009. Na altura, com 17 anos, tinha uma paixão particular por Nicole Kidman e por Penélope Cruz. Uma vez que ambas as atrizes faziam parte do elenco, decidi garantir o meu lugar na plateia logo no fim-de-semana de estreia.
Porém, saí da sala de cinema um pouco decepcionado com o que vi, talvez devido principalmente à criação de expectativas muito elevadas que, de certa forma, não foram correspondidas.
A história concentra-se numa única personagem principal, Guido Contini (interpretado por Daniel Day-Lewis), um realizador italiano que sofre um bloqueio criativo que o impede de realizar filmes sensacionais como aqueles que marcaram o início da sua carreira. A personagem reflecte uma espécie de confusa decadência: outrora foi uma lenda entre os cineastas, mas agora não passa de um homem de meia-idade, claramente envelhecido, com a barba por aparar e os cabelos grisalhos a roubar a juventude.
Como se não bastasse, há amor há mistura. Ou pelo menos paixão! Ficamos a saber rapidamente que Guido tem uma queda para amar demais e que essa sua habilidade lhe traz uma série de problemas.
É influenciado por uma leque variado de nove mulheres – daí o Nine que dá título ao filme – que estão sempre atrás de si e que tanto lhe dão equilíbrio como o perturbam: Sophia Loren veste a pele de mãe; a esposa, Louisa, é interpretada pela actriz francesa Marion Cottilard; a prostituta que em criança lhe ensinou a “ser um italiano” é interpretada por Fergie, que dá voz ao tema principal do filme; a musa inspiradora é interpretada por Nicole Kidman; a amante, por Penélope Cruz. E a lista continua.
Nine: músicas nunca são demais num musical
Uma coisa é certa: ao terminar o filme o espectador sente bem a desordem que vai na cabeça de Guido. Rob Marshall conseguiu através de Nine mostrar como a sua personagem principal perde tudo o que construiu ao longo da vida e que não devemos dar nada como garantido. Assim, o filme mostra a jornada de Guido que a pouco e pouco percebe que há um dia para a glória e outro para o declínio e que no fim resta somente o maço de cigarros, a loucura de aceitar a solidão e o facto sermos apenas uma sombra ténue daquilo que fomos.
O filme foi nomeado para Óscar de Melhor Actriz Secundária, pela interpretação de Penélope Cruz como a amante de Guido. Acredito que, dos papéis secundários deste filme, este seja um dos mais desenvolvidos: encontramos em Carla não apenas uma amante sexy mas também uma mulher com um desejo inconsciente de amar Guido, devotando-lhe muitos dos seus sentimentos e mantendo latente o sonho cliché de que um dia a amante será a esposa. A performance está incrível, as atuações de Penélope Cruz não desiludem mas ainda assim Nine não foi suficiente para a atriz levar para casa a estatueta, perdendo-a para Mo’NiQue do filme Precious.
Por sua vez, a banda sonora do filme é também de aplaudir. Como se não bastasse o facto de ser uma banda sonora de luxo, uma vez que conta com a participação do elenco que fez parte do filme, as músicas do filme estabelecem bem o ritmo e expressam musicalmente os sentimentos da personagem principal. Mais do que isso: traduzem em melodia o tipo de relação que Guido mantém com as diferentes personagens.
Mesmo assim, esperava uma participação mais activa de certas personagens que, com o desenrolar do filme, se mantiveram entre as sombras. Se bem me recordo, Nicole Kidman não tem sequer 10 minutos só seus no ecrã. Tudo isto me levou a achar que o filme Nine acaba por ser monótono para quem não for o fã número 1 de musicais.
Aqui, importa salientar que Nine foi na verdade inspirado no filme autobiográfico Oito e Meio, do realizador italiano Fellini, que através de uma personagem fictícia – que tem o mesmo nome que a personagem de Nine, ou seja, Guido – traça alguns dos momentos marcantes da carreira do realizador, quer a nível profissional, quer a nível pessoal.