Você já viu The NeverEnding Story – A História Sem Fim?
The NeverEnding Story (A História Sem Fim) é um filme de 1984 baseado no romance homônimo alemão de Michael Ende, cujo título original é Die unendliche Geschichte e em Portugal assumiu o nome de História Interminável.
O filme conta a estória de Bastian, um garoto que perdeu a mãe e é criado por um pai distante, solitário em seu mundo ele sofre com falta de orientação e acompanhamento do pai, apanha na escola e por vezes tem seu desempenho nas notas prejudicado, no máximo o pai o pune com palavras duras sem ajudá-lo.
Bastian fugindo de outros garotos de sua idade esconde-se em um sebo, onde o atendente desafia-o com uma leitura diferente. Acatando o desafio, Bastian rouba o livro com a promessa de devolvê-lo, esconde-se no sótão e mergulha na leitura de corpo e alma. No meio da leitura, ele descobre o inacreditável, ele realmente faz parte da estória, e para surpresa geral o expectador (você e eu) acabam por descobrir o mesmo, também fazemos parte.
Na narrativa do livro The NeverEnding Story, o “nada” está tomando conta do mundo da fantasia, o mundo imaginário onde vivem os personagens do enredo, e isto está acontecendo porque as pessoas do mundo real estão deixando de sonhar, abandonando suas mais altas aspirações de vida e tornando-se meros operários que se preparam para atuar em algum segmento de mercado, sem dar à vida mais qualquer significado especial.
Se o pai de Bastian tenta puxá-lo a colocar seus pés no chão, abandonar seu mundo imaginário infantil, o livro recupera-o fazendo ver quem é por dentro, fazendo-o confrontar-se com sua alma.
O herói das páginas do livro é Atreyu, que quando colocado frente ao espelho descobre ser na verdade Bastian, que por sua vez assusta-se e grita: o grande herói da narrativa do livro, é mesmo Bastian.
A obra de Michael Ende é genial, pois filosofia por um lado não se ensina à crianças, pelo fato de ainda não serem conhecedoras do mundo e portanto não serem capazes de avaliar as questões todas ( o que a filosofia chama de cosmovisão ), no entanto, a filosofia de verdade começa com uma auto-avaliação, a pessoa deve mergulhar em si e descobrir quem é, antes de avaliar o mundo entorno. Nisto a obra de Ende é impecável, sobretudo nos desafios das esfinges (você terá que assistir para entender).
A fotografia é emblemática, pois demonstra como um filme produzido com recursos tão evidentemente fracos, cujo realização do enredo é deixada muito mais a cargo do imaginário do expectador do que pela exposição na tela, aproximando-se dos teatros de fantoches e distanciando-se das grandes obras com efeitos especiais, é capaz de nos fazer mergulhar no universo, não pela qualidade gráfica, mas pela força do enredo.
A música é fantástica, pois mistura o clássico com o pop com precisão cirúrgica e acompanha os picos emocionais com os ápices musicais, é uma obra de arte nesse sentido.
A edição é digna de elogios mas não é algo muito além da técnica.
O elenco é bom, mas não é o melhor do cinema, o que é um ponto positivo pois o filme cumpre sua missão sem estrelismos de qualquer natureza.
O roteiro é veloz e não deixa faltar qualquer informação, para uma narrativa tão rica em personagens e cenários, contada em 107 minutos, isso é um feito.
Por fim, a direção é também boa, pois orquestrou uma equipe de grandes talentos com talentos medianos e produziu um dos maiores clássicos dos anos 80.
O filme no final das contas fala sobre o prazer, a utilidade e a forma correta da leitura, demonstra como é feito o mergulho do leitor numa obra e como podem ser úteis as diversas narrativas ao inserirem componentes preciosos no espírito do leitor, no caso deste filme é sem dúvidas a coragem: o garoto aprende o valor da coragem durante a leitura e dela sai preparado para novos desafios.
Como o clássico dos anos 80 retornou com muito respeito aos festivais em 2010 numa re-estréia na França, em 2011 no Festival de Reykjavik, em 2014 numa re-estreia em Madrid na Espanha, em 2015 re-estreou em Barcelona (também na Espanha) e em 2016 foi apresentado no Festival de BUFF na Suécia.
The NeverEnding Story, foi para a época uma das produções mais caras, com investimento de 27 milhões de dólares e faturou 100 milhões (sim, um sucesso de bilheteria que multiplicou quatro vezes o investimento) e ainda ganhou 4 premiações.
Para as crianças eu recomendo fortemente, muito mais que qualquer Harry Potter da vida.
Uma nota 9,0 é justa.