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Edward Scissorhands: a intemporalidade da estranheza humana

Edward Scissorhands: a intemporalidade da estranheza humana

by Tiago Leão

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Edward Scissorhands (em português, Eduardo Mãos-de-Tesoura) é um clássico de Tim Burton, lançado no ano de 1990. O filme baseia-se no livro com o mesmo nome de Caroline Thompson, e conta a história de um monstro de aspeto humano com tesouras no lugar das mãos. Edward Scissorhands é interpretado por Johnny Depp, sendo que é este o filme que marca o início de uma série de colaborações entre o ator e o realizador.

Saído diretamente do imaginário daquele que é considerado como um dos cineastas mais criativos de Hollywood, Edward Scissorhands é uma história dentro da própria história. Lá fora neva e são horas de deitar: no ecrã surge uma avó que aconchega a neta e lhe conta um conto de embalar. Este não seria, no entanto, um conto qualquer: era uma história sobre… tesouras.

edward-scissorhands-filmeAo longo do filme acompanhamos o nascimento de um projeto de um inventor semelhante a Victor Frankenstein, cuja missão era criar um homem de carne e osso. A faltar pouco para cumprir o seu objetivo, o cientista sofreu um ataque cardíaco, acabando por morrer nos minutos iniciais do filme. Para trás, deixou a obra inacabada: um homem semelhante aos outros em quase tudo, mas que tinha tesouras em vez de mãos.

Durante vários anos, Edward viveu sozinho numa casa no topo do monte que todos os vizinhos diziam ser assombrada. No muito tempo que tinha, o meio homem, meio monstro dedicava-se à jardinagem, esculpindo verdadeiras obras de arte em árvores e arbustos. O isolamento terminou quando Peg Boggs, uma revendedora interpretada por Dianne West, decide bater-lhe à porta para vender produtos de beleza.

Depois do um encontro um tanto ao quanto estranho, Peg decide levar Edward para casa. É lá que Edward Scissorhands conhece Bill (Alan Arkin), Kevin (Robert Oliveri) e Kim (Winona Ryder): marido, filho e filha de Peg, respetivamente.

Ao longo de uma série de peripécias, repletas de situações caricatas e bem-humoradas, vamos acompanhando o processo de integração do “monstro” na comunidade local, assim como o despoletar da paixão por Kim – que inicialmente tem medo de Edward pelo seu aspecto assustador.

O facto de não poder tocar em ninguém, o aumento da popularidade (graças ao trabalho como escultor e cabeleireiro) e posteriormente a acusação por um crime que não cometeu formam o enredo principal da história. Mas antes de qualquer spoiler maior, o melhor será mesmo ver o trailer.

 

Edward Scissorhands: a mensagem por detrás do entretenimento

Sobre uma camada de entretenimento puro, Edward Scissorhands esconde mensagens de enorme valor. Embora possa ter aparência de monstro, o personagem principal entra pela primeira vez em contacto com a sociedade: dá-se então o princípio do processo de socialização que põe em evidência o quão dependente a nossa personalidade está do meio social.

A estranheza e a forma como vemos quem nos rodeia é, em Edward Scissorhands, uma espécie de moeda de dois lados. Se em algumas cenas somos confrontados com a surpresa de Edward, noutras colocamo-nos do lado da comunidade que olha o monstro com curiosidade. Numa das suas mais aclamadas obras, Tim Burton brinca com preconceitos e estereótipos, mostrando que na maioria das vezes estes não têm qualquer razão de ser.

Posto isto, podemos dizer que o filme acaba por satirizar uma sociedade que até tem curiosidade pelo diferente, mas que é incapaz de aceitar aquilo que foge demasiado do normal. Mesmo depois da aceitação aparente, os habitantes não tardaram em culpar Edward do crime mais pela sua aparência do que por aquilo que conheceram dele. No final, a ideia pré-concebida acaba por prevalecer, sendo mais forte do que a opinião própria.

Uma vez nas salas de cinema, Eduardo Mãos de Tesoura superou as expetativas. O filme foi um sucesso aplaudido pelo público, mas também não deixou a crítica indiferente. Com ele, Tim Burton começou a ganhar a fama que hoje é mais do que aclamada, e o filme foi inclusive nomeado para um Óscar na categoria de melhor maquilhagem.

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