A utilização da cor no filme Vermelho de Krzysztof Kieślowski
Inserido na programação de junho de 2017 do Cineclube do Porto, com o tema Ser Humano, está o filme TRÊS CORES: VERMELHO (TROIS COULEURS: ROUGE), realizado por Krzysztof Kieślowski. E que magnífica escolha para refletir sobre este tema.
TRÊS CORES: VERMELHO faz parte de uma série de três filme inspirada no bicentenário da Revolução Francesa. A trilogia é uma coprodução entre três países, a Suíça, a França e a Polónia; é composta pelos filmes: TRÊS CORES: AZUL (1993), TRÊS CORES: BRANCO (1994), e TRÊS CORES: VERMELHO (1994), as três cores que compõem a bandeira francesa. Os filmes foram escritos por Kieślowski e Krzysztof Piesiewicz, e a banda sonora composta por Zbigniew Preisner.
KRZYSZTOF KIEŚLOWSKI
O realizador polaco começou por realizar filmes documentais, movido por uma preocupação política que dominava os anos 1960, época em que era estudante de cinema.
Na reconhecida série O Decálogo (Dekalog), que realizou em 1989, Krzysztof Kieślowski retrata, em cada episódio, cada um dos Dez Mandamentos.
Os filmes que compõem a trilogia das cores foram o primeiro grande sucesso do realizador fora da Polónia e são as suas obras mais aclamadas internacionalmente. O tema central de cada filme é baseado em cada uma das três cores que simbolizam os temas da Revolução Francesa: A Liberdade, a Igualdade, e a Fraternidade.
TRÊS CORES: VERMELHO (1994) foi o último filme realizado por Krzysztof Kieślowski. Ao completar a trilogia, com 52 anos, o realizador anunciou a sua reforma. Faleceu dois anos mais tarde na Polónia, a sua terra natal. Poderá dizer-se que esta tríade é a súmula da sua carreira.
TRÊS CORES: VERMELHO
Em todos os filmes a cor em causa está bem retratada e patente quer no tema como no tom do filme. O emprego da cor é primordial para a compreensão da mensagem do filme. Já abordamos este tema no nosso artigo sobre os usos que os realizadores podem dar à cor nos filmes.
No filme VERMELHO a composição das cenas é sempre muito cuidada e cada sequência mais parece um quadro vivo muito bem composto. A cor vermelha está abundantemente patente: na temperatura de cor do filme, no cenário, no guarda-roupa e adereços que envolvem a jovem protagonista, interpretada por Irène Jacob, revelando um impressionante trabalho de direção artística.
No entanto, neste filme, a cor é usada com mais do que um significado. Para além de paixão exprime, desde o primeiro momento, perigo; passando pela raiva e até pelo desapontamento. Ao longo da trama a cor vai desempenhando um papel fundamental servindo para acentuar emoções, memórias e decisões; como já tivemos oportunidade de referir no nosso artigo sobre Filmes que usam o vermelho de forma magistral.
Este filme é uma obra de grande sensibilidade em que a emoção e também a intuição desempenham um papel muito importante tornando este filme em particular, numa experiência muito pessoal e única. Tenho ainda que ressaltar a relevância do papel do som e da música. Não será de estranhar que VERMELHO tenha, por isso mesmo, sido nomeado para imensos prémios, incluindo 3 Óscares, e tendo arrecadado nada mais nada menos do que 17 prémios de prestígio internacional.
Embora cada um dos filmes se sustente por si mesmo os três complementam-se, pelo que me parece muito recomendável o (re)visionamento dos restantes filmes que compõem a série, se possível pela ordem de produção, que é também a ordem em que as três cores se encontram patentes na bandeira francesa: AZUL, BRANCO e VERMELHO. VERMELHO fecha, na minha opinião, brilhantemente um ciclo.
Se quiser saber mais sobre os restantes filmes convido ainda à leitura do nosso artigo sobre o primeiro filme da série TRÊS CORES: AZUL.