10 Filmes sobre adolescência que fizeram sucesso nos anos 80
“Teen angst“. O conceito é inglês e pode ser traduzido para algo como “angústia adolescente”. De acordo com o dicionário urbano, a expressão está relacionada com o estado depressivo que pode ocorrer durante a adolescência e que é normalmente causado por alterações físicas e pressões sociais. Hormonas aos saltos, stress na escola ou problemas familiares despertam dilemas existenciais e às vezes culminam em episódios mais trágicos.
No cinema – onde a adolescência é frequentemente retratada como uma fase divertida, efémera e até mais oca – há filmes que se destacam ao procurarem mostrar uma versão menos ficcionada do período pelo qual já todos passamos. De forma mais ou menos realista, o tema continua a ser abordado, mas foi durante os anos 80 que surgiram alguns dos melhores filmes sobre adolescência. A década rompeu com os paradigmas dos anos 50 (altura em que os jovens eram retratados como divertidos) ao levar os dramas juvenis para as salas de cinema.
John Hughes, um dos realizadores nesta lista, chegou mesmo a dizer que “muitos cineastas retratam os adolescentes como imorais ou ignorantes, com objetivos demasiado básicos… Mas eu não achei que esse fosse o caso. Eu ouvi os miúdos, respeitei-os… alguns são tão brilhantes como qualquer adulto que já tenha conhecido”.
10 Melhores filmes sobre adolescência
1 – The Breakfast Club (1985), John Hughes
The Breakfast Club (ou simplesmente O Clube) é um filme de John Hughes sobre cinco jovens de grupos com características completamente diferentes, mas que são obrigados a passar o dia juntos. Brian é um génio com dificuldade em lidar com a pressão de tirar boas notas; Allison passa despercebida ao olhar dos pais e por isso quer fugir de casa; Andrew é competitivo e para ele a vida é um jogo onde se ganha ou se perde; Claire é o protótipo de rapariga popular; e Bender é um jovem delinquente maltratado pelo pai.
Da junção de personalidades resulta um filme capaz de mostrar as várias facetas da adolescência. À medida que The Breakfast Club avança os personagens vão contando confidências e partilhando as suas preocupações com o resto do grupo. Estereótipos são invertidos e personagens que parecem apenas necessitar de uma frase para serem descritos tornam-se altamente complexos e interessantes. O Santo Graal dos filmes sobre adolescentes, dizem alguns.
2 – Heathers (1988), Michael Lehmann
Winona Ryder é, neste filme, Veronica Sawyer, uma adolescente normal que está farta de ser popular. Membro de um grupo que se chama a si mesmo de The Heathers, constituído por Heather Duke, Heather McNamara e, por fim, Heather Chandler, a líder. É esta mesma Heather Chandler que Veronica não suporta, uma vez que está sempre a sujeitar as outras raparigas a uma tirania absurda. Em segredo, Veronica deseja que Chandler morra.
E é ao conhecer Jason Dean, o novo rapaz – e psicopata – da escola que Veronica percebe duas coisas: que está apaixonada e que o seu desejo de se vingar de Heather Chandler está mais perto do que pensava. Esta comédia obscura mostra então a forma como Veronica, incentivada pelo seu novo namorado, mata os estudantes mais populares da escola.
3 – Bad Boys (1983), Rick Rosenthal
Bad Boys foge ao conceito de filme sobre bullying e namoradas que abandonam jovens adolescentes. O filme aborda a delinquência juvenil e põe em destaque Mick O’Bien (Sean Penn), um rapaz que é mandado para um centro de correção depois de matar acidentalmente um menino de oito anos. Ao longo do filme, acompanhamos o processo de adaptação à nova realidade, ao mesmo tempo que o jovem lida com Paco, o irmão mais velho do menino, que se quer vingar dele usando a namorada.
Com uma carga dramática que não é típica dos filmes adolescentes, Bad Boys tem assinatura de Rick Rosenthal e pode também ser visto como uma crítica a um sistema judicial, incapaz de dar resposta a estes jovens delinquentes. Em vez de corrigirem comportamentos, os centros de correção acabam por desenvolver hierarquias complexas e episódios que apuram o instinto de sobrevivência.
4 – Lucas (1986), David Seltzer
Como o próprio nome do filme sugere, a história concentra-se em Lucas, um rapaz de 14 anos que, além de ser geek, é constantemente alvo de piadas por causa da sua baixa estatura e tem de lidar com uma lista infindável de alcunhas pejorativas. Felizmente, Lucas é amigo de Cappie, o capitão da equipa de futebol da escola, uma personagem popular que defende o amigo de todos estes problemas.
Porém, acontece então algo que põe em causa esta amizade. Tanto Lucas como Cappie se apaixonam pela mesma rapariga. Com um elenco que contava com nomes como Corey Haim, Charlie Sheen e Winona Ryder, o filme Lucas assume-se como um dos mais importantes clássicos adolescentes, embora tenha sido fortemente subestimado pela audiência nas últimas décadas.
5 – My Bodyguard (1980),Tony Bill
Clifford Peache, o novo estudante da Lake View High School, vê-se de súbito metido numa grande complicação. A origem de todo o problema está em ter insultado Moody, o líder dos rufias da escola que são bem conhecidos por extorquir dinheiro a outros alunos. Basicamente, este grupo de rufias diz que o dinheiro serve como pagamento para que o grupo proteja o resto da escola de Ricky Linderman, um pária que supostamente matou o seu irmão mais novo um ano antes.
Sem se deixar convencer por aquilo que estes rufias dizem, Clifford decide apostar na tática oposta e abordar o infame Ricky, com quem rapidamente trava amizade e que acaba por consentir em ser o guarda-costas pessoal de Clifford. O filme lança um retrato inteligente e sensível quanto à realidade do bullying e hoje, quando visto, permanece completamente atual.
6 – Pretty in Pink (1986), John Hughes
Pretty in Pink (ou A Garota do Vestido Cor-de-Rosa) desenrola-se em torno de um dilema amoroso. No papel principal encontramos Molly Ringwald que faz de Andie Walsh. De origens humildes, a jovem mantém uma amizade de longa data com Duckie (Jon Cryer), o amigo de infância pelo qual tem uma paixão.
É então que um rapaz abastado que, ignorando o facto de Andy ser gozada pelas roupas que usa, acaba por se mostrar interessado pela rapariga. Face ao recente interesse, a jovem tem de escolher entre o Duckie (rapaz pobre e paixão de longa data) ou Blaine (o rapaz rico e paixão recente).
Apesar da história que parece até bastante comum, Pretty in Pink distingue-se dos demais por mostrar os contextos e as pressões sociais que afetam os jovens. Da diferença de classes aos problemas familiares, o filme mostra-nos, por exemplo, o pai de Andie que continua devastado pelo facto de a mãe o ter deixado.
7 – Rumble Fish (1983), Francis Ford Coppola
Rusty James é o novo líder de um gangue em Tulsa, Oklahoma. Porém, apesar da sua reputação, continua a viver à sombra do seu irmão mais velho, o ex-líder do gangue Motorcycle Boy que não é visto por ninguém há mais de dois meses. Ainda antes de ter desaparecido, o líder deste último gangue emitiu uma ordem que deve ser respeitada por todos os rufiões da área: os gangues estão proibidos de lutar entre si. É exatamente quando quebra tal acordo que Rusty James tem de lidar, subitamente, com o seu irmão que regressa como se nada tivesse acontecido.
Neste filme de Coppola – que foi adaptado de um livro de S. E. Hinton e cujo argumento terá sido escrito durante as filmagens de The Outsiders – foca-se em mostrar personagens adolescentes, num mundo obscuro e violento e em retratar essa mesma realidade a preto e branco, o que acrescenta uma outra beleza ao filme. Infelizmente, o filme não registou grande popularidade e cai frequentemente no esquecimento.
8 – Better Off Dead (1985), Savage Steve Holland
Better Off Dead (Antes Morto Que Vivo, na versão portuguesa) é um clássico sobre um rapaz adolescente que entra numa espiral depressiva depois de ser deixado pela namorada, que o trocou por um rapaz de porte mais atlético. A depressão leva a uma tentativa de suicídio, que acaba por falhar e o deixa ainda mais obcecado pela ex-namorada. Entre peripécias, o jovem decide desafiar o seu rival enquanto, pelo meio, se entretém a ajudar uma estudante francesa que acaba de chegar à escola.
Apesar do lado mais depressivo e dramático, o filme é uma comédia, conseguindo um equilibrar ambos os géneros com mestria. E, embora seja ficcionado, a verdade é que a película tem uma base real. A história contada coincide nalgumas partes com a do próprio realizador, Savage Steve Holland. Em entrevista, o cineasta confirmou que durante a adolescência foi deixado pelo capitão da equipa de ski e tentou o suicídio.
Curiosamente, as gravações de Better Off Dead não acabaram bem: John Cusack (que desempenhava o papel principal) não gostou do filme, reclamando que este lhe fazia parecer um idiota. Foi então que disse ao realizador para nunca mais falar com ele.
9 – The Karate Kid (1984), John G. Avildsen
Em Karate Kid, somos introduzidos a um tema polémico mas muito real no mundo adolescente: o bullying. A personagem principal é Daniel Larusso, um jovem rapaz que é vítima de ataques por outros colegas, depois de se mudar de Nova Jérsia para Los Angeles. Mesmo que às vezes consiga escapar dos seus agressores é difícil escapar aos truques marciais que os outros rapazes usam, uma vez que andam todos na escola de karaté.
Um dia, Mr. Miyagi – um funcionário do complexo de apartamentos onde o Daniel vive – defende o rapaz e luta contra os seus agressores. Não muito depois, Miyagi oferece-se para treinar Daniel e diz-lhe que, se o treino correr bem, o rapaz poderá participar num duelo de artes marciais que acontecerá em alguns meses. Este clássico dos anos 80 continua a ser hoje relembrado pela forma como conseguiu incorporar tão naturalmente as artes marciais num meio cinematográfico mainstream.
10 – Reckless (1984), James Foley
A história anda à volta estudantes do ensino secundário, nomeadamente Johnny Rourke, um rapaz isolado da comunidade popular, e Tracey Prescott,a líder da claque da escola. Esta dupla improvável acaba por ser selecionada, aleatoriamente, para treinar para uma dança. Inevitavelmente, entre dança e música, o casal acaba por se apaixonar. Porém, este não é um amor fácil porque há muitas coisas a separar Johnny de Tracey: as classes sociais diferentes, o grupo de amigos e o próprio namorado atual de Tracey.
Este filme foi comparado inúmeras vezes com outro filme, Rebel Without a Cause – datado a 1955 e que contou com a participação de James Dean. Os atores, Daryl Hannah e Aidan Quinn, têm, perante as câmaras, uma química que torna a história ainda mais vívida. Com uma incrível banda sonora, que se encaixa na perfeição com as imagens, o filme tornou-se obviamente num clássico dos anos 80.